Alguns caçadores de tesouro chegavam a levar médiuns em sua busca acreditando que um espírito fosse capaz de tudo ver, tudo saber e, sendo assim, poder indicar o local exato do tesouro escondido. Existe a crença de que alguém que já não está entre nós, tem este poder onisciente.
Eu escutei esta história do Xerife, antigo caçador de tesouros nas horas vagas. Ele contou que tinha indicação de um tesouro nas proximidades do Pico Itacolomi e, um dia, saiu com mais quatro companheiros e um médium na tentativa de localizar o tesouro. O médium tinha as duas pernas mecânicas e andava com a ajuda de muletas. O grupo levava as ferramentas necessárias e mais alguns agrados para o espírito que baixasse: cachaça, vinho, cigarro de carteira e de fumo de rolo. O que o espírito pedisse tinha que ser dado senão ele não colaborava.
No local indicado, havia uma raiz enorme que ia até a praia formada pela areia, à margem de um riacho. A turma acendeu uma fogueira e ficou esperando a noite chegar, porque não podia trabalhar de dia. O desmonte de minas do século XVIII é proibido pelo Patrimônio Histórico.
Nem bem escureceu, o espírito baixou e, sem mais nem menos, o homem largou as muletas e saiu andando, meio desengonçado, com as duas pernas mecânicas. A turma olhava aquilo espantada. Ele agarrou a raiz e saiu arrastando-a. Os cinco integrantes do grupo seguraram-no em vão. Ele arrastou tudo e todos para o meio do mato. Parou num lugar e disse: - Cava aqui. Vocês vão chegar numa pedra grande com um S gravado.
Enquanto eles trabalhavam duro, o moço que tinha baixado o espírito ficava sentado, se servindo de cachaça e com um cigarro aceso o tempo todo.
À meia noite, no silêncio do meio do mato, sempre começava a assombrar. Eles podiam ouvir o barulho de pratos quebrando, pedras caindo. Ninguém falava nada naquela hora. Era muito trabalho. Eles cavaram, cavaram. O espírito dizia que estava perto, estava chegando. E a turma cavando, jogando muita terra para fora, e o espírito ordenando: - Mais fundo!
Eles cavaram a noite toda e o médium bebendo e fumando sem parar. De repente, eles chegaram de fato a bater a picareta numa pedra. Com muito custo conseguiram tirá-la. O espírito dizia, através do homem das pernas mecânicas, que debaixo da pedra havia uma corrente grossa, dessas de amarrar cachorro, em ouro maciço. Com esta revelação os homens se animaram.
O buraco já estava enorme. Eles tinham cavado cerca de sessenta metros para baixo e estava quase amanhecendo, quando o espírito disse, com voz mansa: -“Ah, gente, eu não queria desanimar vocês não, mas esse ouro tá muito fundo. Essa corrente de ouro tá lá embaixo. Acho que não vale a pena vocês continuarem cavando não. Tá fundo demais.”
Os caçadores de tesouro, nessa hora, tiveram vontade de dar uma boa surra naquele sujeito. Mas eles sabiam que não era ele o culpado, coitado, mas sim o espírito que falava através dele, e este eles não poderiam atingir.
Conclusão a que chegou o Xerife: Nunca mais caçaria tesouro com espírito porque espírito que baixa é de gente que, em vida, foi mentirosa, velhaca, brincalhona e gozadora. Espírito sério não baixa não. Então, para não ter mais decepções na busca de tesouro, o Xerife só sairia a partir de então, com mapa autêntico, pista certa.